domingo, 6 de julho de 2014

Quer café?

                Entre, fique à vontade, sente-se se quiser. Quer café? Desculpa, mas não sei fazer. Eu posso tentar se quiser, mas se não sair bom, não fique com raiva, por favor. Perdoe-me a intromissão, mas pretende ficar? Ou está só de passagem? Não quero pressionar ou apressar a visita, só saber pra quanto tempo vou ter que fazer sala, pra não me acostumar com isso, cansei de hospedes que não passaram de visitas passageiras. Pegue uma almofada e ponha sobre as pernas, me fale de você, me conte algo que eu não sei, ou que eu tenha esquecido, não me importa, gosto de ouvir sua voz, de procurar seus sentimentos em seus olhos, de analisar seu cabelo e até mesmo de ansiar seu sorriso. Quer alguma coisa? Tem água, suco, uma fruta quem sabe, um abraço também pode ser.
Me conte como vai, comente sobre o novo papel de parede, fala como anda seu trabalho (está desempregado?) e como está sua mãe, me conta um segredo, me entrega um pouquinho de você, ou só me desculpa se eu estiver sendo uma má anfitriã. A porta está aberta pra ir e vir, mas não me entenda mal, eu só entendi, como dona de um imóvel, que tem que se deixar a porta aberta para as visitas se sentirem confortáveis. Eu não quero que vá, mas a porta está aí, de frente para o sofá (talvez fosse melhor se estivesse atrás ou do lado), aberta, sem tranca nem trinco. E eu odeio ser uma boa anfitriã, ter que deixar todos a vontade, felizes e cheios, pra no fim ficar observando a porta aberta ansiosa pela próxima pessoa que vai entrar.
Mudando de assunto, o tempo está bonito, não está?! O céu está limpo e sem nuvens. Mas e aqui dentro? Tem uma nuvenzinha de tempestade, acho que ela quer chorar dentro do meu imóvel. Talvez seja medo de que se vá, de que seja como as outras visitas, que chegaram, se divertiram, e foram embora, deixando a bagunça pra mim. Entendo como a nuvem se sente, às vezes pesa mesmo tudo isso...
Ora, já está tarde, precisa ir? Ou pretende ficar pela noite? Não paga diária, só peço que arrume antes de sair, pra eu não ficar como antes, como a nuvem. Ah, e por favor, não seja educado, se não quiser ficar, não faça sala, se vá, não deixe que eu fique feliz com sua presença. Não seja mau, não me faça querer fechar a porta de uma vez, você sabe que não é bom pra ninguém.

Ah, estou falando demais. Se me der licença, vou deixa-lo à vontade para descobrir se vai ou se prefere arranjar um lugar aqui por enquanto, mas antes de sair, sorria pra mim, me deixe com essa lembrança bonita, quem sabe vire um quadro, me aqueça um pouco, às vezes a casa vazia fica fria demais pra uma pessoa só. Volte sempre, se desejar ir, as portas estão abertas, as portas desse coração, eu espero nunca fechar.

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