Desliga essa tevê, deixa o rádio no mudo e bota o smartphone
no modo avião. Senta aqui comigo, toma um café (não gosta? Não tem problema, eu
também não), relaxa um pouco. Me conta sobre suas inseguranças e medos, me faça
sentir sua dor, me deixa ser parte da tua mente. Larga o computador, põe no
stand by e aperta o play da vida. Converse comigo, deixe suas palavras
preencherem um pequeno cômodo, já existe vazio de mais no mundo, às vezes faz
tanto frio.
Está ouvindo? Essa canção que toca ao longe? Você não
decifra, mas eu sei qual é, eu balbucio os versos enquanto olho seu rosto com
essa expressão de dúvida. Ah, como eu queria te dar todas as certezas, mas
como?, nem eu consigo tê-las.
Fecha os olhos, deixe que apenas sorrisos mudos tenham vez
agora. Aproveita, esse “som” é tão único e raro quanto sincero. Seja forte,
essa melodia dura poucos segundos, daqui a pouco vai acabar. Um. Dois. Fim. O
som do mundo real recomeçou. Pode ouvir?
Quisera eu ver poesia no mundo, naquele banco de praça que já
viu centenas de casos de amores, uns tímidos, outros fugidos, e alguns
simplesmente apaixonados, naquela flor que desabrochou essas manhã e acompanhou
os passos lentos e preguiçosos da menina que ia para a escola. Quisera eu ver
poesia na vida real (ela existe?). Mi diga, quantas rimas as avenidas e os
prédios podem fazer? Me diga mais, que palavras bonitas um hidrante ou aquela
placa de proibido estacionar podem ao menos citar? Nenhuma, eles estão sempre
em silêncio.
Me desculpa a falta de foco, às vezes, me perco janela afora,
olhando a cidade através das grades, me vendo prisioneira do meu próprio ser.
Às vezes, me perco na banalidade disso que chamam de sociedade. Às vezes me
perco nos teus olhos, vejo-me ali refletida, e descubro que essa é minha melhor
versão, vejo constelações de palavras que mudam a cada gesto, a cada segundo.
Vejo o lugar que eu procurei por tanto tempo, perdida em outros reflexos.
Ops, viajei de novo. Acontece, não fique bravo, por favor,
mentes inquietas ficam aind amais perturbadas com o cheirinho do café e um amor
à sua frente. Os dois bem quentes, agitando os caminhos de imaginação.