segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Reflexo

Desliga essa tevê, deixa o rádio no mudo e bota o smartphone no modo avião. Senta aqui comigo, toma um café (não gosta? Não tem problema, eu também não), relaxa um pouco. Me conta sobre suas inseguranças e medos, me faça sentir sua dor, me deixa ser parte da tua mente. Larga o computador, põe no stand by e aperta o play da vida. Converse comigo, deixe suas palavras preencherem um pequeno cômodo, já existe vazio de mais no mundo, às vezes faz tanto frio.
Está ouvindo? Essa canção que toca ao longe? Você não decifra, mas eu sei qual é, eu balbucio os versos enquanto olho seu rosto com essa expressão de dúvida. Ah, como eu queria te dar todas as certezas, mas como?, nem eu consigo tê-las.
Fecha os olhos, deixe que apenas sorrisos mudos tenham vez agora. Aproveita, esse “som” é tão único e raro quanto sincero. Seja forte, essa melodia dura poucos segundos, daqui a pouco vai acabar. Um. Dois. Fim. O som do mundo real recomeçou. Pode ouvir?
Quisera eu ver poesia no mundo, naquele banco de praça que já viu centenas de casos de amores, uns tímidos, outros fugidos, e alguns simplesmente apaixonados, naquela flor que desabrochou essas manhã e acompanhou os passos lentos e preguiçosos da menina que ia para a escola. Quisera eu ver poesia na vida real (ela existe?). Mi diga, quantas rimas as avenidas e os prédios podem fazer? Me diga mais, que palavras bonitas um hidrante ou aquela placa de proibido estacionar podem ao menos citar? Nenhuma, eles estão sempre em silêncio.
Me desculpa a falta de foco, às vezes, me perco janela afora, olhando a cidade através das grades, me vendo prisioneira do meu próprio ser. Às vezes, me perco na banalidade disso que chamam de sociedade. Às vezes me perco nos teus olhos, vejo-me ali refletida, e descubro que essa é minha melhor versão, vejo constelações de palavras que mudam a cada gesto, a cada segundo. Vejo o lugar que eu procurei por tanto tempo, perdida em outros reflexos.

Ops, viajei de novo. Acontece, não fique bravo, por favor, mentes inquietas ficam aind amais perturbadas com o cheirinho do café e um amor à sua frente. Os dois bem quentes, agitando os caminhos de imaginação.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Um meio

Dividir... Eita, coisinha difícil. Quando pequena, tinha que dividir meus brinquedos, e que ciúmes isso me causava (prazer, sou mimada)!, minhas bonecas e meus contos infantis. Apesar de gostar tanto de dividir meus momentos com amiguinhas queridas, eu odiava ter que dividir meu espaço, minhas coisas.
Quando cresci um pouco, tiver que dividir segredos (nunca fui boa com isso), e quantas futilidades eu dividi, quantas bobagens eu não já contei achando que eram as coisas mais importantes, sem saber que o que mais era crucial eu guardava a sete chaves aqui dentro. O que mais em machucava eu chorava pras paredes, pra telas de computar ou para folhas em branco.
Ah, também tive que dividir as amigas, cada uma pro seu lado, cada uma com sua vida, escolas diferente, futuros desiguais que não se cruzavam mais na hora do recreio. Mas me dividi também, dividi minha vida com um pouco mais de pessoas, dividi meu coração com um pouco mais de outros iguais.
E agora? Agora divido meu tempo entre estágio, faculdade, amigos e... você. Divido mesas com pessoas no trabalho, divido meu pequeno coração em tantas partes, divido meus pensamentos em tantas categorias, mas uma acaba teimando em ser maior. E foi tão difícil aprender a dividir minha vida com você, aprender a me dividir com outra pessoa quase que por inteiro. Nunca achei que essa divisão existisse, não achei que fosse possível dividir essa incógnita em mais de uma parte (quantas têm?), nunca achei que fosse acontecer assim e muito menos que eu iria querer dividir muito mais com você.

E quem ama sabe que dividir é tão natural quanto somar, quanto querer, quanto mudar. Eu sei que me dividir com você, é tão bom quanto te somar a mim, que dividir meu espaço contigo agora é rotina (e quem sabe um dia você não divida um espacinho no guarda-roupa para cada um de nós). Dividir nem sempre significa subtração, às vezes (poucas vezes) pode ser a melhor operação matemática que você pode fazer.