Isso é apenas uma crônica curtinha e catita que fiz nem sei por quê. Legal? Talvez. Ou não.
A
música começou a tocar levemente, chamando a atenção dos espectadores que até
então conversavam distraidamente. As cortinas se abriram revelando o placo
escuro, onde apenas uma silhueta podia ser vista, sentada no chão. Uma salva de
palmas incentivou o começo do espetáculo, e após o cessar de aplausos, a música
suave se intensificou. A silhueta se moveu fazendo movimentos leves com um véu
preso nos pulso e costurado a roupa nas costas. Cada movimento seu deixava o
público atônito, maravilhado. A música foi animando, a batida começou a
envolver cada parte de seu corpo que se movia com perfeição sob o ritmo. Mas apesar de toda a leveza do show, o
coração dela pesava. Sabia que seria o fim. A cada minuto, o teatro ficava mais
e mais cheio, já não haviam assentos para os demais, que não se incomodavam em
ficar de pé.
-Se você for lá hoje, eu juro que nunca mais
olho pra você.
Uma lágrima sofrida rolou
seu rosto. Um rodopio a mandou pra longe, mas um salto baixou ainda mais sua
alegria.
-Por favor, não faz isso...
Outra lágrima
veio pra substituir a anterior. A cada minuto a batida da música se
intensificava seu ritmo, envolvendo-a ainda mais.
-Chega! Andréa, se não vai levar esse
noivado a sério, é melhor que ele nem exista!
Girou o
corpo com força jogando toda sua raiva ali. Continuou a coreografia com
maestria, acrescentando algumas coisinhas, toques especiais.
-Mas eu levo.
Outro
passo arriscado que estava fora dos planos de seu coreógrafo, um salto no ar
com uma cambalhota intercalada. A platéia aplaudiu de pé, enquanto seu coração
se despedaçou de vez.
-Hoje faz três anos! Tem noção do que é
isso? Vamos casar! Casar! Não é brincar de casinha. Fazia um mês que eu não te
via.
A cena que todos esperavam,
cinco giros seguidos, para então uma parada dramática encerrando a música e o
espetáculo dela. Pensou que ia falhar no terceiro giro, mas acabou resistindo
até o fim, com a pose aperfeiçoada no fim.
-É meu sonho Nando!
-E o meu era você. Mas você não
está aqui pra mim, nem no nosso aniversário de três anos, nem nunca. Siga seu
sonho, que eu vou procurar o meu.
Ergueu
a cabeça para receber os aplausos, as pessoas de pé batiam palmas emocionadas.
Aquele que esteve assistindo a tudo desde o começo, dos primeiros passos ao
mais recente, também aplaudiu, mas se retirou sem chamar a atenção. Com o rosto
banhado em lágrimas, ela agradeceu numa reverência, sabendo que seria o fim de
um sonho, e o começo de outra realidade.
-Adeus
Nando, eu te amo – sussurrou pra si mesma, antes da porta se fechar e a certeza
de ele ter ido se confirmar.
Nem
sempre os sonhos batem, nem sempre eles vão se entender, e às vezes eles vão te
pedir pra escolher. Ela escolheu, e mesmo com o coração em pedaços, saiu do
palco com um sorriso no rosto.