sábado, 16 de março de 2013

Dream,



Isso é apenas uma crônica curtinha e catita que fiz nem sei por quê. Legal? Talvez. Ou não.       


     A música começou a tocar levemente, chamando a atenção dos espectadores que até então conversavam distraidamente. As cortinas se abriram revelando o placo escuro, onde apenas uma silhueta podia ser vista, sentada no chão. Uma salva de palmas incentivou o começo do espetáculo, e após o cessar de aplausos, a música suave se intensificou. A silhueta se moveu fazendo movimentos leves com um véu preso nos pulso e costurado a roupa nas costas. Cada movimento seu deixava o público atônito, maravilhado. A música foi animando, a batida começou a envolver cada parte de seu corpo que se movia com perfeição sob o ritmo.  Mas apesar de toda a leveza do show, o coração dela pesava. Sabia que seria o fim. A cada minuto, o teatro ficava mais e mais cheio, já não haviam assentos para os demais, que não se incomodavam em ficar de pé.
                -Se você for lá hoje, eu juro que nunca mais olho pra você.
                Uma lágrima sofrida rolou seu rosto. Um rodopio a mandou pra longe, mas um salto baixou ainda mais sua alegria.
                -Por favor, não faz isso...
                Outra lágrima veio pra substituir a anterior. A cada minuto a batida da música se intensificava seu ritmo, envolvendo-a ainda mais.
                -Chega! Andréa, se não vai levar esse noivado a sério, é melhor que ele nem exista!
                Girou o corpo com força jogando toda sua raiva ali. Continuou a coreografia com maestria, acrescentando algumas coisinhas, toques especiais.
                -Mas eu levo.
                Outro passo arriscado que estava fora dos planos de seu coreógrafo, um salto no ar com uma cambalhota intercalada. A platéia aplaudiu de pé, enquanto seu coração se despedaçou de vez.
                -Hoje faz três anos! Tem noção do que é isso? Vamos casar! Casar! Não é brincar de casinha. Fazia um mês que eu não te via.
                A cena que todos esperavam, cinco giros seguidos, para então uma parada dramática encerrando a música e o espetáculo dela. Pensou que ia falhar no terceiro giro, mas acabou resistindo até o fim, com a pose aperfeiçoada no fim.
                -É meu sonho Nando!
                -E o meu era você. Mas você não está aqui pra mim, nem no nosso aniversário de três anos, nem nunca. Siga seu sonho, que eu vou procurar o meu.
                Ergueu a cabeça para receber os aplausos, as pessoas de pé batiam palmas emocionadas. Aquele que esteve assistindo a tudo desde o começo, dos primeiros passos ao mais recente, também aplaudiu, mas se retirou sem chamar a atenção. Com o rosto banhado em lágrimas, ela agradeceu numa reverência, sabendo que seria o fim de um sonho, e o começo de outra realidade.
                -Adeus Nando, eu te amo – sussurrou pra si mesma, antes da porta se fechar e a certeza de ele ter ido se confirmar.
                Nem sempre os sonhos batem, nem sempre eles vão se entender, e às vezes eles vão te pedir pra escolher. Ela escolheu, e mesmo com o coração em pedaços, saiu do palco com um sorriso no rosto.