sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Cara de sapo também tem coração

Eu lembro de uma vez que eu estava passando numa praça da cidade em que eu morava, no interior, e ouvi duas meninas rindo. Eu devia ter uns 15/16 anos, e ainda não tinha iniciado o tratamento de pele com Roacutan, então meu rosto era cheio de espinhas. Uma das meninas disse a seguinte frase: cara de sapo. Automaticamente eu sabia que era comigo. Lembro que há 10 anos, esse comentário não me "afetou", ou seja, eu não fiquei triste ouvindo aquilo. Não porque eu me amava ou não deixava que críticas não construtivas me afetassem, mas porque o ódio que eu sentia por mim já era tão forte, que ouvir aquilo foi bem menos pesado do que as coisas que eu pensava sobre mim mesma.

Hoje, eu me policio muito antes de dirigir um comentário a aparência de outra pessoa. Me policio em pensar sobre a aparência de outra pessoa, e cansei de me repreender por estar ditando aquilo como errado, quando sei que não existe pessoa errada. Não existe mulher gorda de mais, nem magra de mais. Não existe black armado de mais nem cabelo liso de mais. Existe o que deixa as pessoas bem. Ponto. E muitas vezes, elas estão no mesmo processos de aceitação que  eu, onde ainda se é frágil e qualquer comentário maldoso destrói tudo que tentamos erguer com tanto pesar.

Particularmente, acho que deveriam exitiguir comentários como "você engordou",  "preferia seu cabelo como era antes", "essa roupa está ridícula em você", e derivados. Muitas vazes a pessoa está claramente feliz, às vezes por ter conseguido usar aquilo pela primeira vez, às vezes por estar indo bem no trabalho, às vezes por ter terminado um livro ou uma série incrivel, e tudo que as pessoas conseguem dizer é: tá, mas e seu """"""""""""defeito"""""""""? Como se 1) fossemos reduzidos a esse """"""""""defeito"""""""" 2) toda nossa vida fosse anulada enquanto não resolvermos esse problema gigantesco.

Nossa, essas pessoas não conseguem enxergar que elas reduzem seres humanos maravilhos, pensantes, criativos, estilosos, inteligentes e bem-sucedidos a, por exemplo, um número na balança? Sério? Eu tenho certeza de que essas pessoas incomodadíssimas não gostam de serem reduzidas a um número na balança. Ou se gostam, deviam procurar ajuda, psicológica de preferência. E caso, você não queira esse tipo de ajuda, adoeça sozinho e pare de adoecer pessoas maravilhosas que enfrentam mil batalhas por dia e se orgulham de TODAS suas conquistas.