Baixei
o copo no balcão com certa força, chamando a atenção das pessoas que estavam
ali ao redor, mas elas não se incomodaram muito com minha presença. Pedi ao
garçom para me servir outra dose, a qual virei em minha boca em poucos
segundos. Senti o álcool descer rasgando minha garganta, mas não me importei,
até achei agradável aquela sensação, me fazia esquecer de coisas que minha
mente teimava em me lembrar. Falando nessas coisas, acabou passando um flash em
minha cabeça da primeira vez que eu bebi pra esquecer. Tinha tanta coisa na
minha cabeça, tanta coisa ruim, e ainda ser acusada da morte de minha cachorrinha
no meio da festa não ajudou, acho que bebi pra enxugar as lágrimas, que, fiquei
feliz com isso, nem chegaram a descer. E sabe qual o principal motivo pra eu
ter decidido beber daquele jeito? Te esquecer. Esquecer seu sorriso, sua voz,
seu rosto, seus olhos, seu corpo em contato com o meu... Foi só pra parar de
pensar em você, e eu consegui, mas a ressaca não me deixou em paz no dia
seguinte, não a ressaca física, mas a ressaca moral.
“Hoje
quero beber até esquecer quem eu sou”, foi essa a frase que saiu da minha boca
uma vez, em outro bar. Mas não era bem isso que eu queria dizer, se eu fosse
analisar profundamente, seria para esquecer a timidez e conseguir dar em cima
de alguém, na tentativa desesperada de te esquecer, resumindo, eu queria
esquecer apenas quem você era. Mas naquela noite, eu esqueci até meu nome. Não
foi uma boa experiência, mas foi uma experiência, e como toda experiência, é
válida. Se eu tivesse tanta experiência quanto essa minha última frase, eu já
poderia subir ao posto de sábia.
Eu
parei por uns segundos e reparei na minha atual situação, num bar, sozinha
porque minhas amigas não apoiavam essa minha personalidade alcoólatra , e ainda
pensando em ti. Não acho que as pessoas ali entendessem realmente o que eu
sentia, mas a cada lágrima que escorria pelo meu rosto sem querer, elas me
lançavam olhares de compaixão e pena, bom, pelo menos tanto quanto a bebida lhes
permitisse, porque eu não era a única embriagada ali. Algumas pessoas deviam me
achar uma vadia, sempre tem aquelas que pensam assim, outras, uma pobre
coitada, que era exatamente como eu estava me sentindo.
Lamentar
minha existência medíocre não a tornava nem um pouco melhor, e eu já tina
decidido virar esse jogo. Ram, pobre sonhadora. Até funcionou por um tempo, só
tinha um problema, aquela personalidade que usei pra fazer isso não era a
minha. E daí? Tudo o que eu queria era não estar na minha pele, quando a
miserável da minha mente lembrasse de ti. Mas eu não me sentia bem, e passei a
continuar procurando aquela que me faria bem, aquela parte minha que me
transformasse numa pessoa feliz, alegre e sem mágoas. Achei. Mas você a destrói
todas as vezes que me olha e sorri, ou que fala no telefone com ela. Ou que me
olha e sorri enquanto fala com ela. Droga. Pedi outra dose ao garçom, aquilo
estava ficando chato.
Bom, pelo
menos essa minha crise envolvendo bebida foi útil, aprendi que: 1- beber pra
esquecer não funciona, 2- eu não sou uma bêbada que faz besteira, quer dizer,
agarrar alguém numa balada não é besteira. Muita gente faz isso. Ah, e eu não
falo besteira também, isso eu já faço sóbria quando tenho coragem, eu nunca
peguei o celular e liguei pra alguém só pra dizer um eu te amo, embora pensando
nisso agora, eu acho que devia. Pode ser o efeito do álcool agora em mim
dizendo isso, mas como eu já disse, não faço esse tipo de coisa, aliás, nem
lembro que celular existe.
Ih,
depois de mais umas três doses acho que vou ser enxotada, tá quase amanhecendo
e o dono do bar quer fechar, mas uns poucos clientes se recusam a deixar. Pedi
mais uma dose, eu já nem lembrava o que estava bebendo, apenas entornei o copo
sentindo o álcool descer pela garganta sem grandes problemas. Era hora de dar
tchau. Situação crítica em que a pessoa cita Teletubbies. Deixei algumas notas
no balcão e me apoiei nele, tentando levantar. Tudo girou. Droga. Consegui com
sofreguidão me pôr de pé e fui pra rua pegar um táxi. Mais uma noite virada com
muitos copos virados, eu nem queria saber qual minha condição até acordar umas
horas depois. E eu só confirmei a informação que me era dada em todos os meus
porres, o amor, aquele bonito e verdadeiro, nem o álcool consegue afetar. E
sabe por quê? Mesmo nessa noite, eu não esqueci nem por um segundo de você.