A latinha já estava quente, e eu
tinha dificuldade pra ler o que dizia no rótulo (seria Devassa, ou Schin?),
fitei a tevê onde tocavam músicas que destruíam meu psicológico. Argh, como se eu precisasse de alguém pra
jogar na minha cara minha falta de sorte. Eu estava confusa, e as várias
latinhas de cerveja jogadas no meio do quarto não tinham ajudado a clarear
minha mente, muito pelo contrário, mas pelo menos tinham me deixado feliz. Ah,
meu querido álcool!
-Se pelo menos eu tivesse uma
resposta, eu já ficaria mais conformada... – murmurei para o vento.
Apertei a latinha na mão e tomei
o resto do seu conteúdo. Acho que podiam ter trocado minha bebida por água do
mar, que eu nem teria notado. Acho que se eu tentasse dedicar uma pergunta para
cada lata que eu tinha bebido, iriam me faltar latas.
-Primeira lata: o que tá
acontecendo? Eu não sei! Eu tenho plena certeza do que sinto e quero, mas isso
é bem diferente do que acontece, sempre é.
Fechei os olhos tentando evitar
que transbordassem. Olhei pra cima e continuei:
-Segunda lata: por que me abandonaram?
Quantas vezes eu já não me fiz essa pergunta, e nunca tive uma resposta. Talvez
se um de vocês estivesse comigo, eu não estivesse sentada no chão do meu quarto
bebendo sozinha em uma terça à noite.
Nunca estiveram aqui, e talvez eu
nem devesse sentir falta, mas aquela sensação de que algo me faltava nunca saia
do meu lado.
-Terceira lata: pra que tanta
solidão? Sempre gostei dela, mas ultimamente sua presença estava me
incomodando. Talvez eu tivesse me acostumado a não me sentir sozinha.
Tomei outro gole.
-Quarta lata: o que teria
acontecido se tantas coisas não tivessem mudado? E se eu nunca tivesse voltado? Aonde será que
eu estaria.
Ah, o doce sabor do incerto.
-Quinta lata: quantas pessoas já
saíram da minha vida, quando eu só queria que elas ficassem?
Opa, tava começando a ficar
brega, aliás, mais brega. Suspirei.
-Sexta lata: o que ele pensa?
Estava difícil saber o que eu
pensava, quem dirá o que os outros pensavam.
A sétima lata repousava em minhas
mãos, e eu estava chegando à conclusão de que eu fraca, e não apenas para
bebida. Minha cabeça girou quando me levantei do chão frio, e um miado baixo
chamou minha atenção. Acariciei a cabeça da gatinha que me fazia companhia e
sorri, pelo menos eu não estava totalmente sozinha. Entornei a lata e a amacei,
jogando-a no chão. Peguei outra na geladeira e a abri. Era a oitava latinha que
eu tomava, e eu ainda tinha tantas perguntas, e nenhuma resposta....
Tomei um gole, quem sabe quando
eu perdesse a conta de latas, alguma resposta tivesse dó de mim...
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