quinta-feira, 10 de julho de 2014

Primeira pergunta

A latinha já estava quente, e eu tinha dificuldade pra ler o que dizia no rótulo (seria Devassa, ou Schin?), fitei a tevê onde tocavam músicas que destruíam meu psicológico. Argh, como se eu precisasse de alguém pra jogar na minha cara minha falta de sorte. Eu estava confusa, e as várias latinhas de cerveja jogadas no meio do quarto não tinham ajudado a clarear minha mente, muito pelo contrário, mas pelo menos tinham me deixado feliz. Ah, meu querido álcool!
-Se pelo menos eu tivesse uma resposta, eu já ficaria mais conformada... – murmurei para o vento.
Apertei a latinha na mão e tomei o resto do seu conteúdo. Acho que podiam ter trocado minha bebida por água do mar, que eu nem teria notado. Acho que se eu tentasse dedicar uma pergunta para cada lata que eu tinha bebido, iriam me faltar latas.
-Primeira lata: o que tá acontecendo? Eu não sei! Eu tenho plena certeza do que sinto e quero, mas isso é bem diferente do que acontece, sempre é.
Fechei os olhos tentando evitar que transbordassem. Olhei pra cima e continuei:
-Segunda lata: por que me abandonaram? Quantas vezes eu já não me fiz essa pergunta, e nunca tive uma resposta. Talvez se um de vocês estivesse comigo, eu não estivesse sentada no chão do meu quarto bebendo sozinha em uma terça à noite.
Nunca estiveram aqui, e talvez eu nem devesse sentir falta, mas aquela sensação de que algo me faltava nunca saia do meu lado.
-Terceira lata: pra que tanta solidão? Sempre gostei dela, mas ultimamente sua presença estava me incomodando. Talvez eu tivesse me acostumado a não me sentir sozinha.
Tomei outro gole.
-Quarta lata: o que teria acontecido se tantas coisas não tivessem mudado?  E se eu nunca tivesse voltado? Aonde será que eu estaria.
Ah, o doce sabor do incerto.
-Quinta lata: quantas pessoas já saíram da minha vida, quando eu só queria que elas ficassem?
Opa, tava começando a ficar brega, aliás, mais brega. Suspirei.
-Sexta lata: o que ele pensa?
Estava difícil saber o que eu pensava, quem dirá o que os outros pensavam.
A sétima lata repousava em minhas mãos, e eu estava chegando à conclusão de que eu fraca, e não apenas para bebida. Minha cabeça girou quando me levantei do chão frio, e um miado baixo chamou minha atenção. Acariciei a cabeça da gatinha que me fazia companhia e sorri, pelo menos eu não estava totalmente sozinha. Entornei a lata e a amacei, jogando-a no chão. Peguei outra na geladeira e a abri. Era a oitava latinha que eu tomava, e eu ainda tinha tantas perguntas, e nenhuma resposta....

Tomei um gole, quem sabe quando eu perdesse a conta de latas, alguma resposta tivesse dó de mim...

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