segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Madrugada

Fitei novamente o céu pouco estrelado, as luzes da cidade, as nuvens, tudo isso ocultava os pequenos pontos brilhosos que me traziam paz. A madrugada se arrastava com preguiça, e eu estava ligada, como se tivesse tomado energético, ou usado algo. Mas estava sóbria. A noite inteira me acompanhava pesarosamente como se tivesse pena de mim. Eu estava só. Não que fosse um acontecimento raro. Na verdade, era exatamente igual a todas as outras. Voltei o olhar pra tela do computador onde uma música calma tocava baixinho. Nessas horas eu tinha medo de falar, como se o universo inteiro fosse capaz de ouvir meus sussurros. Mas no fundo eu sabia que ninguém ia escutar. Mesmo se eu gritasse ao mundo minhas frustrações, ninguém iria escutar. Nunca escutam.
Tive de me retesar um pouco pra não sentir aquele aperto no coração que sempre me acometia nessas horas. Levei a ponta do dedo indicador à boca e pressionei meus dentes com um pouco de força. Um dor pra esquecer a outra, é o que dizem.
Troquei a música. Sempre me traziam lembranças aquelas melodias. O repertório no aleatório poderia ser cruel quando queria. E normalmente ele se empenhava nisso no alto da madrugada, quando a única coisa que podia me chamar a atenção eram as nuvens que passeavam pelo céu como se não tivessem pressa. Irônico, eu mal podia esperar para o sol nascer, e aquela angustia se por junto com a lua. Pelo menos até a próxima madrugada eu estaria salva.
Apesar da melancolia, havia tanta coisa ali para contemplar. O silencio dava a impressão de que os problemas não existiam, o mundo dormia e levava com ele minhas preocupações diárias. Ironicamente, elas pareciam fantasmas a me aterrorizar. Não existiam, mas me assombravam. Se é que isso faz sentido. Ou não. Pouca coisa parecia fazer sentido aquela hora.
Aquele costumeiro líquido quente que sempre fazia de minhas bochechas seu caminho se fez presente. Caso alguém perguntasse, não saberia responder. Eu só sabia que não podia para-lo. Não queria. Talvez, eu sempre pensava, se eu deixa-lo escorrer, essa sensação passe. Mas não passava. Enxuguei o rosto e fitei o céu novamente, os primeiros raios da manhã pintavam o céu. Antes de a lua se por, antes do sol nascer. Meu único ponto de paz. Quando o céu parecia tão confuso quanto eu. Quando a bela paisagem afastava qualquer pensamento. Bom ou ruim.

Fechei a janela depois de uns minutos, aquela madrugada tinha chegado ao fim. Na noite seguinte, tudo se repetiria. Mas naquele momento, tudo tinha acabado. Um dia após o outro, é o que dizem.