Eu decidi, vou comprar um violão.
Vou aprender a tocar minhas músicas preferidas, e, mesmo que minha voz não seja
linda, vou canta-las quando estiver sozinha, me sentindo só, apenas com o
intuito de me lembrar que não estou. Sim, meu violão será preto, onde eu possa me
ver refletida, tanto nele, quanto nas suas notas. Ah, é verdade, eu não tenho
quem me ensine, mas quem se importa?, procuro um vídeo depois. Quem sabe um
professor, ou até mesmo um amigo meu possa fazê-lo. Não, não, sem amigos, isso
tem que ser uma coisa só minha.
Eu sei
que em alguns momentos eu vou ter raiva do meu violão, em alguns momentos vou
querer dar uma de rock star e jogá-lo no chão, mas eu não vou fazer isso, vou
trata-lo com carinho, mesmo com raiva, colocá-lo num canto e esperar até a
raiva suavize, eu vou saber que não é só culpa dele. Eu vou me obrigar a ver
que aquele modelo talvez não fosse perfeito como eu queria, e nem sempre vai se
comportar da maneira que eu quisesse, mas isso vai depender muito de como eu o
tocasse.
Com o
passar do tempo e da prática, eu vou descobrir que o meu violão tem seus
defeitos, um arranhão na lateral, ou um defeito técnico bestinha, mas aí eu já
vou estar tão apegada a ele que não vou querer me desfazer dele, é isso que
acontece quando você gosta muito de uma coisa, aceita seus defeitos, e talvez
aquele arranhão dê até um charme fofo a ele. Pelo menos eu acho que é assim, eu
acredito que eu não ia precisar de um violão perfeito, eu ia apenas precisar de
um que eu pudesse tocar quando estivesse chateada com alguma coisa, ou comigo
mesmo, e quando estivesse alegre suas notas me fizessem alargar o sorriso.
Eu sei,
eu sei, nunca toquei uma mísera nota certa num violão antes, e não vai ser
fácil aprender a fazer isso certo, vai me dar trabalho, vontade de desistir, vontade
de vende-lo ou dar pra outra pessoa, mas eu não quero desistir. Eu não quero
mais desistir daquilo que me importa, daquilo que, perdão pela repetição de
palavras, eu quero. E aí, depois de tanto esforço, quando eu conseguir tocar
uma canção, ou apenas um refrão, eu vou sorrir orgulhosa, eu vou sentir que fiz
certo.
Eu vou
arranjar um violão, e curar aquelas que eu julgava feridas eternas, porque ele vai
estar sempre aqui, porque ele não vai me deixar com medo, porque ele vai deixar
que meus sentimentos fluam sem medo, ele não vai me julgar se eu quiser tocar
uma música da Taylor Swift e chorar, e em seguida tocar uma do Engenheiros, ou
do Guns ‘n’ Roses, porque ele só se importará em ser tocado, em tocar a alma de
quem o tem. Ele ainda estará lá quando eu chegar em casa, e mesmo que eu passe
um tempo sem tocar, ele não irá me virar as costas quando, numa tarde de
domingo chuvosa, eu resolva tirar sua poeira.
Eu vou
comprar um violão pra cantar o que a alma cala, o que o coração esconde, o que
a pele ânsia, pra fazer serenatas e dedicar canção aos que estão aqui, aos que
eu quero que fiquem. Sim, eu vou comprar um violão.