Bateram à porta, quem será?
-Quem é?
-Sou eu.
-Eu quem? Não conheço sua voz.
-Ah, conhece sim, só que não
nesse mesmo timbre.
Puxei as cobertas até o pescoço.
-Não abro a porta para estranhos.
Me diga seu nome.
-Você sabe meu nome, mas não me
conhece de fato.
-Ué, você acabou de dizer que eu
te conhecia.
-Você pensa que sabe quem sou,
mas na verdade nunca me conheceu.
-Está me deixando confusa. Qual e
seu nome?
-Ora, não está claro?
-Não, não está.
-Eu sou o que chamam de amor.
-Tá bom, é preciso ser louco pra
amar, isso não existe.
-Ora, você diz que eu não existo,
mas está falando comigo. É loucura o suficiente?
Me retesei na cadeira.
-Não fale bobagens.
-Quem disse foi você. Enfim, vai
me deixar entrar ou não?
-Por que deveria? Toda vez que
faço isso, você me decepciona. Sempre que confio no amor, acabo despedaçada.
-Isso acontece porque não
acredita em mim.
-Ora, que bobagem está dizendo?
-Você não confia em mim, nem
sequer me conhece, só me viu por aí, você apenas confia em quem fala em meu
nome, sem provas de realmente me ter.
-Como assim?
-Você só vai deixar de se
despedaçar quando passar a confiar apenas em mim, quando me sentir em você e
acreditar que isso basta, quando confiar apenas em mim como sentimento, ao
invés de confiar nas pessoas, tudo vai melhorar, porque quando eu realmente
existo, nada mais importa.
-Não sei se compreendo.
-Sei que compreende, mas ainda
tem medo. Então, vai me deixar entrar? Pode ser diferente dessa vez.
-Quem me garante?
-Ora menina, deixe de ser tola, a
maior beleza do amor está na incerteza. Está no friozinho na barriga que
antecede o encontro. Está no medo de nada dar certo, e no sorriso que surge
involuntariamente quando acontece melhor do que o planejado. A minha beleza
está nas lágrimas que tentam curar um coração partido, e nas poesias que provém
dos lábios daqueles que já me provaram. Minha beleza está em quem nunca desiste
de amar.
-Belas palavras, mas ainda não me
convenceram.
-Não preciso, aquele sorriso vai
fazer isso. Aqueles olhos castanhos sabem te fazer ceder, aquela risada pode fazer
o que ninguém mais faz.
Pisquei. Pensei. Levantei.
Click. Eu estava incerta, mas
quando abri a porta, o amor me sorriu, e não pude evitar, comecei, enfim!, a
amar...
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