Havia ali uma coisa que faltava. Obviamente, se faltava, não
havia. Doces discordâncias. Mas se não havia, como sabia? Sentia falta, de
fato. De quê? Se sabia, não dizia. Se sabia, não buscava. Apenas continuava
tentando preenche-lo com formas que não encaixavam. Apenas tentava encher com
água um buraco vazado. Nunca enchia. Nunca encaixava. Mas ela continuava.
Em noites insones como aquela, perguntava-se quantas mais
pessoas passavam por aquilo. Quantas pessoas mais passavam por coisa pior? Mas
ela mal sabia de si, imagina o que saberia dos outros. Ela ficava ali na cama,
estática, olhando para além do que os olhos capturavam. Sorria para si mesma. E
se perguntava se aqueles que diziam amá-la poderiam julgar quando esse sorriso
por dentro estava quebrado. Ela um dia ouviu isso em uma música, e achou digno
de se usar para mais situações além dos versos cantados para milhares de
pessoas. Eles também tinham sorrisos quebrados, mas será que tinham quem se
importasse? O que ela não tinha. Ninguém jamais a perguntou sobre a veracidade
de seus sorrisos.
Sorriu mais uma vez. Talvez um sorriso vazio, combinando com
seu interior. Quem podia culpa-la?
Aliás, quem poderia ajuda-la?
Ela não sabia o que estava procurando para preenche-la, mas
talvez, apenas talvez, no fundo, tudo o que ela queria era um vazio que fosse
parecido com o seu. Porque ela sabia, e você também sabe, os vazios sempre vão
existir, a solução é achar quem os entenda. Quem os amenize.
Ela sabia disso. Muito bem.