Inspirei fundo, absorvendo aquele doce aroma, me
teletransportando para outra época, em que aquele perfume fazia parte do meu
dia a dia. Desci as escadas e me deparei com aquele cheirinho de bolo feito
pela minha mãe, que tem um gosto e cheiro exclusivos dela, que só ela faz e que
me deixa com cinco anos de novo, enquanto devoro um pedaço. Saí de casa
sentindo o cheiro de mato, me devolvendo minha infância passada no sítio, as
horas que eu passava com meu avô na rede, conversando sobre os animais que ali existiam.
Ao
chegar à escola, uma garota passou por mim com um perfume doce, que me encheu
de alegria, o cheiro de amizade, de cumplicidade, o perfume da minha melhor
amiga. Entrei na sala depois de ser esmagada por abraços dos amigos, que
exalavam saudade dos poros, depois de longas férias. Aquele cheiro característico
de giz, que me lembrava meus professores antigos, os atuais, os que eu não via
há anos... Aquele cheiro de aprendizagem, de pessoas que me ensinaram a ser
quem eu sou.
E, na
hora do intervalo, aquele perfume... Aquele cheiro de tristeza, de saudade, de
amor. Aquele perfume que já me fez rir e chorar, que me arrepiou e me fez
completa. Aquele cheiro que me impregnou de uma maneira que nunca me deixou
esquecer. Aquele perfume que, eu lembro bem, eu só sentia em você. Aquele perfume que me deixou, que se foi e
nunca mais voltou, aquele perfume que continuava ali do lado, seduzindo quem
mais quisesse, me deixando com aquele sorriso que cheira a tristeza.