Dia da crônica! Eu posso até me basear em mim mesma pra fazer alguns textos, mas os desfechos são sempre diferentes, e talvez por isso eu me considere uma pessoa meio sonhadora. Mas enfim, eu não precisava explicar isso.
Mais um ônibus passava, já era o
segundo que esvaziava a parada e, embora fosse a linha que eu pegava todos os
dias, eu não levantava um dedo pra correr até ele. Me chame de louca, tudo bem.
Eu só queria estar ali quando ele chegasse, e não me importava de esperar pra
isso. Normalmente eu ficava fazendo hora depois da escola até chegar o horário
do ônibus quando eu saia mais cedo, só que naquele dia em específico, ninguém
podia ficar me fazendo companhia, então fui obrigada a ir logo pra parada de
ônibus. Belos amigos, humpf. Suspirei
enquanto cantava baixinho a música que meus fones gritavam em meus ouvidos, até
sentir alguém tirar um deles de minhas orelhas. Inevitavelmente sorri.
-Oi,
você – ele disse se sentando ao meu lado.
-Oi, tu
– respondi tirando o outro fone da orelha.
Era
sempre assim, e, vale frisar, eu não queria que fosse diferente, ou ele sempre
estava ali quando eu chegava, ou eu sempre estava ali quando ele chegava, mas
eu não sabia se ele me esperava como eu fazia de vez em quando. Era fácil
conversar com ele, apesar de sermos como óleo e água, dois opostos. Mas não
dizem que os opostos se atraem?!
Começamos
a conversar sobre futilidades, como aulas e professores. Era engraçado que,
mesmo inconsciente, eu me alegrava muito quando acabava a aula, mas não só por
poder ir pra casa, mas por saber também que poderia conversar com ele, já que
eu ainda estava no primeiro ano, e ele, no terceiro, por isso, conversar no
colégio era bem difícil. Eu só podia agradecer por ele pegar o mesmo ônibus que
eu.
-Deixa
eu te fazer uma pergunta? – questionei quando o silêncio tomou conta de nós.
-Lógico.
-Um
amigo meu me perguntou qual a característica que eu vejo em mim, que não acho
em quase ninguém mais. Eu não soube responder, porque, enfim, eu me acho muito
normal, então queria te perguntar se você sabe dizer...
-Sobre
mim ou sobre você?
-Sobre
mim...
-Tá,
deixa eu pensar. Mas depois diz uma sobre mim?
Assenti,
contente. Ele fez cara de pensativo por uns segundos, depois me encarou, como
se tentasse me analisar por dentro. Franzi as sobrancelhas arrancando um riso
dele.
-Se
continuar fazendo essa careta, vai ser difícil pensar.
-Desculpa
– pedi bufando, meio ironicamente.
Depois
de uns segundos a mais, o ônibus chegou, e nós subimos nele. Havia alguns
assentos no fundo vagos, então nos sentamos lado a lado.
-Já
sei! – ele disse um pouco alto, me fazendo olhá-lo curiosa. – Você é uma pessoa
neutra, que não parece ter raiva de muita coisa, ou odiar alguma coisa. Uma
pessoa meio light.
Não
entendi muito bem a expressão, mas fiquei surpresa com a resposta, muita gente
dizia que eu era bem irritadiça, só que eu tinha uma tese de que apenas alguns
indivíduos despertavam esse meu lado, e pelo visto, ele não era um deles.
-Sua
vez.
Demorei
um pouco pra conseguir pensar em algo, mas eu sabia que não poderia levar mais
tempo, minha parada era bem antes da dele, e não estava tão longe assim.
-Você é
meio imprevisível.
Ele
arqueou as sobrancelhas como se não tivesse entendido.
-Sei
lá, quando te conheci, nunca imaginei que um dia pudéssemos nos tornar...
Amigos. Você não obedece ao estereótipo que representa, por isso te acho
imprevisível. E isso de não obedecer ao estereótipo, é bem raro, normalmente as
pessoas fazem de tudo pra não sair da linha.
Tive de
espantar as lembranças que teimavam em me mostrar momentos em que não só ele
quebrava esse estereótipo, como me mostrava que eu não precisava seguir um
padrão para fazê-lo se interessar por mim. Ele sorriu me tirando de meus
pensamentos.
-Tenho
que ir – eu disse meio desanimada, enquanto olhava para o lado analisando onde
eu estava.
-Ok,
até amanhã então.
Dei um
beijo em sua bochecha e recebi um na minha, que passou casualmente muito perto
do canto da boca, e eu me amaldiçoei por não ter tido coragem de virar um
pouquinho pro lado. Desci do ônibus e fui pra casa a pé. Quando cheguei, entrei
em meu quarto e joguei minhas coisas pro lado, me jogando na cama em seguida.
Peguei o celular que estava no bolso da minha calça e vi que tinha uma mensagem
de um número desconhecido, apertei pra ver o que tinha escrito lá.
“Outra característica que tem em você que eu
não achei em mais ninguém é me fazer gostar de ti sem nem ao menos tentar.
Beijo”
Um
sorrisinho nasceu em meus lábios, mal ele sabia que essa qualidade eu podia
achar em outra pessoa bem próxima além de mim. Nele mesmo.
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