segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Aquela característica

Dia da crônica! Eu posso até me basear em mim mesma pra fazer alguns textos, mas os desfechos são sempre diferentes, e talvez por isso eu me considere uma pessoa meio sonhadora. Mas enfim, eu não precisava explicar isso.

Mais um ônibus passava, já era o segundo que esvaziava a parada e, embora fosse a linha que eu pegava todos os dias, eu não levantava um dedo pra correr até ele. Me chame de louca, tudo bem. Eu só queria estar ali quando ele chegasse, e não me importava de esperar pra isso. Normalmente eu ficava fazendo hora depois da escola até chegar o horário do ônibus quando eu saia mais cedo, só que naquele dia em específico, ninguém podia ficar me fazendo companhia, então fui obrigada a ir logo pra parada de ônibus. Belos amigos, humpf. Suspirei enquanto cantava baixinho a música que meus fones gritavam em meus ouvidos, até sentir alguém tirar um deles de minhas orelhas. Inevitavelmente sorri.
                -Oi, você – ele disse se sentando ao meu lado.
                -Oi, tu – respondi tirando o outro fone da orelha.
                Era sempre assim, e, vale frisar, eu não queria que fosse diferente, ou ele sempre estava ali quando eu chegava, ou eu sempre estava ali quando ele chegava, mas eu não sabia se ele me esperava como eu fazia de vez em quando. Era fácil conversar com ele, apesar de sermos como óleo e água, dois opostos. Mas não dizem que os opostos se atraem?!
                Começamos a conversar sobre futilidades, como aulas e professores. Era engraçado que, mesmo inconsciente, eu me alegrava muito quando acabava a aula, mas não só por poder ir pra casa, mas por saber também que poderia conversar com ele, já que eu ainda estava no primeiro ano, e ele, no terceiro, por isso, conversar no colégio era bem difícil. Eu só podia agradecer por ele pegar o mesmo ônibus que eu.
                -Deixa eu te fazer uma pergunta? – questionei quando o silêncio tomou conta de nós.
                -Lógico.
                -Um amigo meu me perguntou qual a característica que eu vejo em mim, que não acho em quase ninguém mais. Eu não soube responder, porque, enfim, eu me acho muito normal, então queria te perguntar se você sabe dizer...
                -Sobre mim ou sobre você?
                -Sobre mim...
                -Tá, deixa eu pensar. Mas depois diz uma sobre mim?
                Assenti, contente. Ele fez cara de pensativo por uns segundos, depois me encarou, como se tentasse me analisar por dentro. Franzi as sobrancelhas arrancando um riso dele.
                -Se continuar fazendo essa careta, vai ser difícil pensar.
                -Desculpa – pedi bufando, meio ironicamente.
                Depois de uns segundos a mais, o ônibus chegou, e nós subimos nele. Havia alguns assentos no fundo vagos, então nos sentamos lado a lado.
                -Já sei! – ele disse um pouco alto, me fazendo olhá-lo curiosa. – Você é uma pessoa neutra, que não parece ter raiva de muita coisa, ou odiar alguma coisa. Uma pessoa meio light.
                Não entendi muito bem a expressão, mas fiquei surpresa com a resposta, muita gente dizia que eu era bem irritadiça, só que eu tinha uma tese de que apenas alguns indivíduos despertavam esse meu lado, e pelo visto, ele não era um deles.
                -Sua vez.
                Demorei um pouco pra conseguir pensar em algo, mas eu sabia que não poderia levar mais tempo, minha parada era bem antes da dele, e não estava tão longe assim.
                -Você é meio imprevisível.
                Ele arqueou as sobrancelhas como se não tivesse entendido.
                -Sei lá, quando te conheci, nunca imaginei que um dia pudéssemos nos tornar... Amigos. Você não obedece ao estereótipo que representa, por isso te acho imprevisível. E isso de não obedecer ao estereótipo, é bem raro, normalmente as pessoas fazem de tudo pra não sair da linha.
                Tive de espantar as lembranças que teimavam em me mostrar momentos em que não só ele quebrava esse estereótipo, como me mostrava que eu não precisava seguir um padrão para fazê-lo se interessar por mim. Ele sorriu me tirando de meus pensamentos.
                -Tenho que ir – eu disse meio desanimada, enquanto olhava para o lado analisando onde eu estava.
                -Ok, até amanhã então.
                Dei um beijo em sua bochecha e recebi um na minha, que passou casualmente muito perto do canto da boca, e eu me amaldiçoei por não ter tido coragem de virar um pouquinho pro lado. Desci do ônibus e fui pra casa a pé. Quando cheguei, entrei em meu quarto e joguei minhas coisas pro lado, me jogando na cama em seguida. Peguei o celular que estava no bolso da minha calça e vi que tinha uma mensagem de um número desconhecido, apertei pra ver o que tinha escrito lá.
                “Outra característica que tem em você que eu não achei em mais ninguém é me fazer gostar de ti sem nem ao menos tentar. Beijo”

                Um sorrisinho nasceu em meus lábios, mal ele sabia que essa qualidade eu podia achar em outra pessoa bem próxima além de mim. Nele mesmo.

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