Certa vez, quando eu era bem
pequenininha, me deram um lápis e uma folha de papel, como fazem quando querem
entreter as crianças, mesmo que isso queira dizer muitas paredes riscadas.
Quando parti dos rabiscos para as letras, entrei em um mundo que não tinha
saída, entrei no meu mundo. Foi difícil descobrir que mundo era esse, e porque
eu estava nele, foi difícil até descobrir que ele existia, mas eu me toquei.
Não sei
se começou com um poema que o professor passou como atividade de casa, ou em
uma história de princesas que escrevi pra minha avó, eu só sei que ali algo
nasceu. E aqueles rascunhos viraram mania, aquela vontade de continuar aquelas
palavras e nunca mais pausá-las parecia uma coisa normal.
Aos
quinze, entrei de vez, armada com meu caderno e uma caneta, nesse mundo que eu
ainda desconhecia. Minha primeira obra, as primeiras lágrimas que recebi, a
primeira vez que abri o coração para algo que não poderia me fazer sentir
culpada por aquilo, para algo que, eu sabia, começava a amar. A partir daí, foi
impressionante como minha mente passou a ver histórias em tudo, em todos, em
mim e nos outros.
Eu
descobri nas palavras escritas, o amor que desconhecia nas pessoas, a paixão
intensa por algo que não me fazia mal, não tinha olhos azuis ou fama de bad
boy. Descobri os amigos que me faltaram na infância, os pais que se ausentaram
na vida inteira, a coragem que nunca me visitou. Posso dizer com certeza que eu
me encontrei. Descobri coisas sobre mim, uma parte obscura da minha mente que
só precisava de um pouco de luz pra se rebelar, uma parte iluminada do meu
coração que carecia de um pouco de escuridão para acender. Eu descobri na tinta azul de uma esferográfica, motivos para continuar pintando minha própria tela em branco.
Quando
comecei a escrever, abri minha cabeça para todas as possibilidades possíveis,
passei a encarar outras mentes como minhas, a ter que respeitar aquilo que me
parecia estranho, comecei a acreditar em mais do que eu sabia, e a desacreditar
no que me ensinaram numa vida inteira, lentamente, me dei conta de que quem se
apega ao preconceito, tem que se desapegar de muita coisa. E não valia tanto a
pena assim conservar velhas ideias. Afinal, era sobre isso, sobre mudar sempre,
ser uma pessoa em constante evolução, era sobre ser muitas em uma só.
Eu descobri
um amor em um lápis e uma folha de papel, e quando eu mais preciso de tudo , só
isso me basta...
Lindo texto, parabéns!
ResponderExcluirMuito, muito obrigada *-*
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