Acredito eu, na minha simples
opinião, que todo tipo de repetição uma hora cansa. Pegar sempre o mesmo ônibus
cansa, assistir sempre o mesmo programa cansa, fazer sexo sempre na mesma
posição enjoa, escrever sempre textos tristes pra uma mesma pessoa cansa,
sofrer sempre pela mesma pessoa, vish, aí que cansa mesmo. Por isso eu decidi.
Sim, estou decidida a não escrever mais nenhum texto triste ou dramático para
você.
Difícil?
Será. A minha forma de expressão será abafada, consequentemente meus sentimentos
também serão, tirando um ou outro acesso de choro que suas palavras venham a
ocasionar. Tudo bem, não serão apenas um ou outro. Serão muitos. Nosso laço não
é do tipo que se desfaça assim, por querer, é uma questão de sangue. Embora eu
quisesse. Já pedi o divórcio dessa relação tantas vezes, já tentei até cancelar
esse contrato o qual assinei antes mesmo de aprender a empunhar uma caneta. Não
me permitiram, parece que a natureza não permite.
Costumava
me imaginar quando pequena com uma família normal, com pai, mãe, nãos e talvez
um bichinho de estimação que iriam me obrigar a cuidar e levar pra passear,
alegando ser minha responsabilidade, embora, no fundo eles também o amassem.
Ilusão, doce ilusão. Televisão demais. Malhação demais, admito. Sempre gostei
de Malhação. Minha realidade, assim como a de outras muitas pessoas foi bem
diferente disso. Não reclamo. Aprendi na pele a ser fria, a lidar com a raiva
por não ser tudo como eu queria, a não ser tão mimada, a aceitar que, mesmo
aquilo que era pra ser seu, nem sempre será. Tipo o amor dos seus pais. Ou seu
pai, apenas.
Sei que
não é o fim do mundo, tem gente passando por coisa muito pior, mas meu jeito,
minha visão e minha maneira de sentir me dizem que isso fez, faz e ainda fará
bastante falta na minha vida. Um vazio, definindo por uma metáfora. Vazio que
os anos vão cobrindo, mas nunca preenchendo. Num futuro, ele estará
completamente coberto, e a chance de algo conseguir penetrar nele será nula,
embora por baixo dessa casca haja ainda o oco. Um dia será tarde demais pra
preencher o buraco no meu coração.
Sabe,
não te culpo por não querer me preencher, sem maldade. Talvez nem eu mesma
quisesse, me conhecendo como conheço. Mas não vou dizer que já perdi algumas
horas de sono me perguntando o porquê de tudo isso. Talvez você simplesmente
ache que ter me dado a vida foi o suficiente, que você existir seja o bastante,
e que eu saber que tem seu nome na minha certidão de nascimento seja o máximo.
Bom, não é. Já ouvi falar em dor em membros fantasmas, tipo quando alguém perde
a perna num acidente, mas continua sentindo dor nessa perna, mas não acredito
que haja felicidade por parentes fantasmas, aqueles que constam no seu RG, mas
não na sua vida. Nesse caso, a dor se encaixaria melhor.
E
agora, depois de tantos devaneios, você entende por que eu não escreverei mais
pra você? Eu prometi pra mim, e talvez eu venha a quebrar essa promessa em um
acesso de tristeza, mas vou me esforçar pra me manter firme. Se depois de
tantos textos, tanta dor, tanto sentimento jogado numa folha, metaforicamente,
você nem ao menos os leu, não será um ou dois a mais que mudarão isso, não é?!
Atenciosamente, aquela que se revolta por não existir
divórcio entre parentes de sangue.
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