“Hey! Tô traumatizada, sério,
precisando urgentemente das aulas de português da Kelly pra compensar as
asneiras que escutei hoje, no maravilhoso encontro com Sérgio, o anta (sim,
descobri o nome dele). Vamos começar do começo: ele veio me buscar em casa com
o carro da mãe, fofo até, trouxe um Lírio pra mim, desceu do carro,
cumprimentou minha mãe e até abriu a porta do carro pra mim (57 vivas pra ele).
Até aí tudo lindo, pensei que a noite realmente podia ser boa. Tola ingênua.
Deus não dá um menino bonito, culto e educado pra uma pessoa só, principalmente
se ela for eu. Sérgio escolheu um filme bem água com açúcar, do tipo que dá enjoo
só no enredo, mas não reclamei, ele tava tentando me agradar. Aliás, é um erro
pensar que garotas gostam apenas de filmes melosos que deixam minha diabete atacada,
elas também gostam de sangue e membros voando (Nota da autora: só não sou eu
essa garota, mas tudo bem). Durante o filme, ele pegou na minha mão, olhou em
meus olhos e se aproximou lentamente. De repente eu entendi como devia ser
beijar um bueiro ou algo do gênero. Bafo de onça, uma onça morta que rolou em
óleo de sardinha e ficou secando ao sol dentro de uma fossa por uma semana. E
quem dera isso fosse hipérbole. Tentei ao máximo ficar longe daquela zona
tóxica, e aproveitar o resto do filme (embora minha mente estivesse na minha linda
escova de dente dentro do banheiro). Depois do filme, fomos comer algo no
McDonald’s, mas antes fiz questão de passar numa bomboniere e comprar uma pastilha de hortelã, se bem que
nem um pé de hortelã com raiz e tudo daria jeito, e oferecer gentil e
discretamente para ele, que recusou. Panaca. Durante o lanche, eu tive a leve
impressão de que aquele hambúrguer me falaria menos babaquice do que aquele a
minha frente. Tanquinho nenhum valia o “nós vai”, entre tantos outros, que eu
ouvi em meio aos seus planos pro próximo encontro. E a pérola da noite nem foi
essa, foi ouvir que Isaac Newton, físico brilhante, é um grande rei. Do skate.
Como alguém consegue pensar isso? Sério, nem com todo o esforço do mundo eu
conseguiria fazer isso com o pobre do Newton. Depois dessa me vi obrigada a
pagar a conta e pedir educadamente pra ele me levar pra casa. Antes de eu
descer do carro, ainda tive o desprazer de sentir aquele aroma de animal em
putrefação sussurrar pertinho de mim que aquele tinha sido o melhor encontro da
vida dele e que queria repetir. Desculpa fofito, mas se eu quisesse sentir esse
cheiro constantemente trabalharia limpando o esgoto da cidade, ou juntando lixo
hospitalar. Dei qualquer desculpa e saí do carro fugindo de mais um beijo
tóxico. Assim que deitei em minha cama, depois de escovar os dentes 70 vezes e
gastar um litro de enxaguante bucal, liguei para Mara e implorei que ela
dissesse pro Sérgio que nunca mais, NUNCA, me procurasse na vida. O engraçado
foi que ela perguntou que desculpa daria e ficou chateada quando eu disse pra
falar pra ele que eu estava noiva do príncipe Harry. Não sei porquê, burro do
jeito que era, seria capaz de acreditar e ainda me mandar um presente de casamento.
Com a cabeça deitada no travesseiro, temo pela minha sanidade mental, já
imaginou eu sonhar com aquela boca? Daria um filme de terror, Viagem ao centro
da nojeira, ou Fedor – o apocalipse começa na falta de pasta de dente. E agora tô pensando seriamente em ligar pro
Kauã, nem sei pra quê, acho que só pra ouvir sua voz rouca de quem acaba de
acordar e provavelmente muito irritada, de quem tem o sono interrompido. Vou descartar
essa ideia por enquanto, já tive emoções (ruins) de mais por um dia. Acho que
vou dormir pra esquecer esse encontro. Adeus, ouvinte (lógico que você ouve o
que eu escrevo né, quem nunca? ¬¬ Tenho que rever meus conceitos sobre antice e
ver se não me enquadro neles), xoxo.”
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