terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vago


Olhei pra trás, em busca daquilo que senti falta. Mas o que era? Eu tinha sentido falta de algo, mas sinceramente não saberia dizer o que era. Sonhos... Olhei para frente em busca de respostas, eu não via nada. Nem saberia dizer o que eu esperava ver. Olhei para os lados, procurando alguém que me respondesse, que me tirasse dúvidas. Não tinha ninguém, mas não importava, eu não sabia mesmo quem queria que estivesse ali. Ergui a cabeça, fitando o céu. Estrelas? Lua? Sol? O que era pra ter lá em cima? Desejei que o céu fosse um grande quadro em branco, esperando o pincel de um artista enquanto conservava-se vazio, pois era tudo que eu via.

Olhei para baixo. Terra... Asfalto, estrada, cimento, grama, mato... O que era aquilo? Semicerrei os olhos tentando distinguir a imagem. Poderia ser tudo, e ao mesmo tempo poderia ser nada. Podia ser o céu, ou o inferno, podia ser os Campos Elíseos, o Tártaro, o Olimpo, o quintal da casa em que cresci, a varanda da casa em que vou viver, a terra do cemitério onde me transformaria em pó, e podia não ser nada disso.

Olhei pra dentro, numa última esperança de ver algo. Mas tudo parecia tão... Vago. Gritei, mas aquele som ecoou, como acontece em um quarto vazio ou à beira de um precipício. Eu não tinha ideia de qual dos dois estava à minha frente. Um passo adiante, mas o que sustentava aquele passo? Olhei pra baixo, lá no fundo. Tinha uma coisa brilhando fracamente, como se a pilha estivesse fraca. O que era aquilo?

Segui pela trilha de nada até chegar perto. Notei que ele pulsava com um esforço imenso, não parecia que ia durar mais que alguns movimentos. Não, talvez nem o próximo suportasse. Sua aparência era tão cansada, que me surpreendi que ainda lutasse por aquela luz fraca, aqueles movimentos quase extintos. Olhei ao redor, tudo era escuro. A luz vinda daquilo a minha frente não parecia capaz de iluminar nem meus próprios pés. Aproximei meu rosto da luz rosada, de pertinho, dava pra notar meu equívoco, era vermelho. Tanto a luz, quanto o que a emitia. Ergui a mão e o toquei, em um pulo pareceu-me que as pulsações haviam aumentado um pouco, a luz agora me permitia ver meus joelhos.

Segurei-o entre minhas duas mãos. A cor se avivou, a luz agora me cegava. Fechei os olhos com força, deslumbrada. O que era aquilo que eu via de olhos fechados? Um rosto? Quem era? Aliás, quem eram? Esperem! Não se vão! Fechei minhas mãos entorno daquilo com mais força, sentindo-o encher-se de vida, pulsar forte, colorir o ambiente ao meu redor. Abri os olhos. Nada mais prendia aquilo que eu segurava. Ao meu redor, os rostos que vi de olhos fechados sorriam pra mim. Eu sorria? Olhei para minhas mãos. Aquilo parecia... Um coração? Como eu não havia identificado antes? E de quem... Era meu? Mas estava quase... Morto. Eu estava quase morta. Os rostos! Eu os reconhecia! Eles... Me lembravam... Cenas? Um filme? Mas o quê? O que era aquilo? Aquela garotinha parecia comigo. Era... Eu. Era minha vida que passava naquelas paredes. Era o fim? Eu estava morrendo? Olhei para o órgão em minhas mãos, ele pulsava com força, não parecia perto do fim.

Estalou. Entendi. Eu estava quase morta. Mas não estava. Não era minha hora. Eu não podia me render. Recoloquei o coração em seu lugar e voltei pela trilha que parecia feita de lembranças. Corri até o lado de fora, esperando não ser tarde. Emergi com força, caindo deitada. Abri os olhos. Eram estrelas! Céu negro. Apalpei o chão ao meu redor. Grama. Pelo toque ainda molhada de orvalho. Passeei minhas mãos pelo meus corpo, parando no peito. Eu sentia o pulsar forte, acelerado. Olhei para os lados, não tinha ninguém, mas eu sabia quem queria que estivesse ali. Era isso! Olhei pra trás. Sorri e voltei a fitar o céu. Eu sentia falta de mim. Eu sentia falta de me sentir viva.

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