Eu conheci uma garota parecida comigo. Com os mesmos cabelos
cacheados, o mesmo sorriso riscado de malicia, as mesmas cicatrizes... Sua cor
preferida? A mesma que a minha. Adorava escrever e ler tanto quanto eu. Tinha
até mesmo a mesma mania que eu tenho de morder o lábio inferior. Nós temos os
mesmos livros, as mesmas músicas, e gostamos das mesmas séries de televisão.
Passar horas jogando conversa fora com quem amamos? É com a gente mesmo. Os
mesmos sonhos, as mesmas vontades, o mesmo nariz e a mesma paixão por colares.
Aquela velha coleção de etiquetas de roupas ela também tinha, e ela gostava das
mesmas pessoas que eu, tinha as mesmas paixões.
Aquele riso descontrolado também a dominava quando ela
estava muito nervosa, assim como eu. O sorriso facilmente surgia em seu rosto,
assim como no meu, e o senso de humor me era familiar. Essa garota tinha o
mesmo nome que eu, e até mesmo o mesmo sobrenome. Mas nós tínhamos uma
diferenças: meus olhos eram medrosos, já os dela, determinados. Enquanto eu
sentia medo e me refugiava nesse sentimento, ela tentava lutar contra ele. Uma
vez lhe perguntei se ela não sentia medo, a resposta foi simples: sentir eu
sinto, mas sinto mais medo ainda de não vencê-los. Ela lutou contra tudo que a
atormentava, mas logo novos temores surgiram, e quando achei que era o fim, ela
simplesmente continuou a lutar. Sem se forçar, sem se humilhar, às vezes se
machucando, mas sempre se superando. Um dia eu conheci uma menina que era meu
rosto refletido no espelho.
Tudo que eu tinha, ela também tinha, mas em mim, faltava sua
coragem. Um dia, eu conheci uma menina que me ensinou uma lição. Ela me ensinou
que eu poderia ser como ela. Ela me ensinou que a diferença entre quem tem
coragem e quem é covarde, é a ausência de força de vontade. A ausência de
determinação. Um dia, eu conheci uma menina, que fazia parte de mim. E essa
parte queria me mostrar, que eu era muito mais do que poderia sonhar.
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