quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A Bela sem a Fera

Escrito em 30/11/2013

Bela sem Fera?
Vaguei meus olhos pela janela mais uma vez. Outro suspiro. A rua estava movimentada, os carros buzinavam como loucos e a única luz que adentrava em meu cubículo, digo, apartamento, era a dos postes. Qual foi a graça mesmo de ter comprado aquele apartamento? No começo, eu o achava minúsculo, mal cabiam nossa cama de casal e o guarda-roupa para dois no quarto, mas hoje, tudo parece tão grande, tão vazio.
Quando você foi embora com apenas uma mala com suas roupas, eu me convenci que era melhor assim, nós brigávamos tanto que os vizinhos já chamaram até a polícia, três vezes, mas depois eu olhava para o, atualmente, meu apartamento e sentia que faltava algo. Fui à lojas, comprei tanta coisa pra preencher aquele vazio que mal cabia lá dentro.
Adotei até um gato. Você odeia gatos. E ainda assim, eu achava que faltava algo. Chamei meus amigos, fiz uma house party, e acabei ficando com aquele meu amigo que despertava tanto ciúme em você, quando acordei ao lado dele na manhã seguinte, foi como se um raio tivesse acertado minha cabeça. Era isso, faltava alguém ali do meu lado todos os dias pela manhã e na hora de dormir. Passei a convidar meu amigo para ir à minha casa cada vez mais frequentemente, até que, ao invés de amigo, passei a chama-lo de namorado.
Ele amava o Tito, meu gato, dava até certo ciúme de tanto carinho e mimos dedicados ao felino. O tempo passou e outro 02 de agosto chegou, no anterior você tinha ido embora, e nesse, eu comemorava oito meses de namoro, mas ainda achava que faltava algo naquele apartamento, embora o namorado estivesse praticamente morando lá.
Minha folga acabou sendo numa segunda, diferente de sempre, que era no domingo, e por coincidência, você apareceu por lá. Disse que apesar de tudo você ainda se preocupava muito comigo. Fiz café e servi com os biscoitos que, eu sabia, você ama, conversamos a tarde inteira, rimos, quase choramos relembrando o passado, você fez cara feia para o Tito e eu ri.
Parecia que tudo estava completo de novo. Mas você foi embora, e a sensação de que algo faltava voltou, porém, dessa vez não me preocupei em comprar algum outro artefato ou convidar mais alguém para minha casa. Dessa vez eu sabia que o que faltava ali era você. Terminei com o namorado naquela mesma noite.
E agora, aqui estou eu sentada na janela do (só) meu apartamento, tentando não olhar para dentro e encarar aquela sensação solitária e vazia. Tito pulou em meu colo e começou a ronronar como ele sempre faz quando nota que eu estou triste. Acariciei sua cabeça e voltei a observar a rua sem muita atenção. Eu me sentia presa num castelo, sem ter como sair, à espera do meu príncipe encantado.
Seria razoável citar a Rapunzel, mas eu sinceramente a acho uma sem sal, minha princesa favorita é a Bela. Talvez porque você costumasse dizer que éramos como eles, eu, a camponesa que não gostava de você, e você, a Fera que não sabia como conquistar a camponesa.
Depois do nosso primeiro beijo, nosso conto de fadas virou A Princesa e o Sapo, um anfíbio que com um pouco de carinho virou um príncipe, e a cada dia, eu te amava ainda mais, na verdade, ainda amo ainda mais. Só que agora, era só eu, a Bela no papel de Rapunzel, sem príncipe, sem relógio ou bule falante, com os cabelos cortados na altura dos ombros e sem Fera.
A campainha tocou e meu coração voltou a tocar junto, poderia ser meu príncipe? Abri a porta e dei de cara com minha Fera usando o terno social de todos os dias de trabalho, você devia ter ficado lá até tarde de novo, adorava fazer isso. Deixei a razão de lado e praticamente pulei em cima de você.
O seu abraço preencheu todo o vazio que eu sentia, e ali, numa noite de quarta, com a voz fraca e o coração explodindo, deixei pra trás toda minha autoconfiança e te pedi, gaguejando, não sei se por soluços ou nervosismo, pra voltar pra mim, me tirar da torre e me devolver meu castelo.
Com os olhos arregalados você disse que não sabia se era uma boa ideia. Eu te disse com convicção na voz, tudo o que realmente importava, eu te amo, e te perguntei se você me amava. Um sim doce e verdadeiro encheu-me de prazer, meus olhos transbordaram e um sorriso seu nasceu. Você limpou minhas lágrimas e me beijou.
E ali estávamos nós, mais uma vez, unidos, como se nunca você tivesse ido embora, a Bela e a Fera juntas por todos os contos de fadas que estavam por vir.


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